quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Destinos .

A incerteza da humanidade
não se limita à teorias
sobre capital e cidades
com pessoas vazias

Porém se mantém tão acesa
quanto a ponta de um cigarro
E sustenta uma chama ilesa
mesmo após tragos vários
Iluminando a estrada adesa
dos seres inconformados...

Saturação .

Gotas de chuvas invadem a janela da sala. Estou sem forças, não as impedirei de entrar. Gotas de álcool inflamam todas as cartas e contas que já passaram pelas minhas mãos. Gotas salgadas deixam meu rosto úmido e meus olhos inchados. Gotas de sangue (meu sangue) se debruçam no piso da sala.
Em meio ao medo de não saber o que me espera, tento me acalmar, pois não existe mais volta. Creio que em minha morte, grandes pedaços de carne alimentarão a terra, além de agraciar também, pequenos decompositores.
Acredito que quando estiver incorporado ao solo, meu corpo será mais útil, trará vida ainda que permaneça morto e presenteará formosos Vermes com a desculpa insensata de que a defunta detestava tudo, inclusive sua própria existência.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Confissão .

Sinto-me melhor
trancada aqui
Quero estar só
com o devir

Desejo o abraço
dos meus livros
Desejo cansaços
nunca sentidos

Nada de gente
Nada de sons
Sem sol quente
ou frios bons

Janelas fechadas
Respiração calma
Um sorriso-fachada
e crateras na alma...




Frutos podres .

São todos uns doentes, implorando por segundos de vida, nem que recorram à meios tortuosos para tal. Se conseguirem minutos, então, estão no paraíso. Cancerosos, rogam pela misericórdia que dizem desprezar e amam, sem que percebam, a ideia de um Bom Deus. Sob seus atos rotineiros mais parecem cachorros revirando o lixo em busca de algo que tapeie a fome e alimente o espírito.
Pobres seres, vazios de conforto, a insegurança lhes serve de pele. E sei que estou no mesmo patamar de desgraça que eles. A única diferença é que possuo a plena consciência da minha condição e por isso... sofro mais.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Rotineiros ciclos .


Todas as noites, quando passo por aqui, olho rápido pra trás e me assusto com a minha própria sombra. Meus reflexos são muito bem estimulados nas ruas desertas dessa cidade suja. Quando chego em casa me divido entre os afazeres, o sono e a alimentação. Nada de agitações, minha maior festa é terminar os três capítulos diários, não estar sentindo dor alguma e não ver ninguém ao meu lado. Prefiro ficar só.

Sensação de encontro no tempo: o tempo de hoje remete ao tempo em que desencontrei alguém; fixo o meu olhar na paisagem horizontal e, então, canso-me de tudo.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ao alcance dos meus olhos .


Vejo nuvens espaças
presas em redes de estrelas
nítidas, alvas e iluminadas,
nunca opacas e secas

Vejo pessoas-imundície
de índole engravatada,
Engenhando mísseis
Desenhando armas
e planejando incríveis
destruições em massa

Vejo o asfalto, duro e frio
como o coração de tantos
que no espelho arredio
sufocam seus prantos,
e que, no cotidiano vazio
emitem fúnebres cânticos!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Presente do tempo .

O Sol escorregadio
que desliza involuntário
De tão quente e febril
parece estar desmaiado

Abaixo dele, as Carcaças
dos seres meta-morfos
Anunciam com desgraça
o mundo dos mortos
e exibem a sarcástica
desestrutura dos ossos

O Sol, deveras doente
frita os restos humanos
Atravessa com luz as lentes
Aturde o principio do dano:
Queima qualquer inocente
que sinta o passar dos anos!



Disparidade .

Agora está distante alguém que há alguns dias esteve bem perto. O eco dessa distância ecoa em uma trilha decorada, margens brancas, grossos riscos. O olhar, os óculos, o beijo negado. Eu existia, e comigo, o não: um problema.

                         

terça-feira, 3 de julho de 2012

Insônia .


Música clássica embala a noite
Gemidos sussuram melodias
Ventanias soam como açoites
e participam das sinfonias

Não mais me entristeço
Não mais me deprimo
Tampouco durmo cedo
como sugerem os sinos
E creio que envelheço
no decorrer matutino...


domingo, 1 de julho de 2012

Biografia momentânea .

Taça vazia
Tonturas
Misantropia
sem cura

Nostalgia
Amargura
E a apatia

perdura...

Sem divindade
Sem crença
Sigo à margem
da decadência!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fim de noite .


As músicas chegam aos meus ouvidos mesmo com as janelas do quarto fechadas e eu, lendo pela terceira vez o mesmo artigo, me sinto abatida e só. Talvez, quando amanheça, nem olhe para o céu. Que diferença haveria entre o sol e a trovoada, se dentro de mim a sensação é de desencontro? Agora, com o artigo sob a mesa, penso em ouvir alguma música agitada, ou quem sabe ler poemas eróticos. Fugir um pouco do meu modo comum de viver, para me desprender das leis que obedeço há muito tempo. Estou exausta desses livros que me acompanham nas madrugadas e nos bancos das praças, mas mesmo fadigada não os deixo por um instante sequer. A ampulheta do meu tempo está parada e ameaça nunca voltar a funcionar.
A cabeça já começa a doer e me pergunto por que os remédios não fazem mais efeito... A chuva caindo lá fora, meus olhos secos aqui dentro, os pássaros buscando um refúgio pra escaparem do frio e eu presa em meu próprio quarto, sem ter condições de fugir do frio da minha lentidão e da minha concepção monótona de que a satisfação é melhor alcançada quando se aprende mais sobre história e filosofia.
Por vezes, sinto o tímido desejo de mudar minha forma de enxergar o mundo, de sair mais, de reavivar a cor dos meus olhos baixos e semicerrados. Assim, vai surgindo em minha mente uma agonia tão insana e um desespero tão repreendido que até o ânimo de escrever me foge e as palavras me parecem tão escorregadias que se torna impossível tê-las como aliadas. Realmente estou só. Acho melhor tomar mais uns comprimidos e tentar dormir, antes que meu coração palpite mais forte e que a sudorese invada o meu corpo. Prefiro o risco de não ter sonhos durante o sono, do que estar acordada e acreditar viver um pesadelo, no qual as minhas escolhas me esfaqueiam a cada segundo que se passa.

domingo, 3 de junho de 2012

Indiferença .

Sangue corre nas veias
rubro, rápido e quente
Inerente à vida alheia
com alto teor fervente
Retratando toda força
das letras lançadas
na sujeira das poças
d'uma ira elucidada...


Jamais frearei a língua
diante de hipóteses
Nem chorarei à míngua
sem batons e retoques


O insulto é um filho 
que carrego no ventre
É a cobra que eu crio
É a minha semente
É o terreno baldio
do qual sou residente!




terça-feira, 8 de maio de 2012

Dupla frieza .

Havia, do lado de fora
uma criança chorosa
(refém da humana apatia)
Que sofrendo, ao relento,
com o queixo trêmulo,
de frio morria...

Enquanto, altiva, exclamava
o quanto eu apreciava
noites geladas e sombrias,
Nem sequer me lembrava
que o frio não abrigava
gente de carteira vazia...


*Obra poética datada de 04/02/2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Olhos nítidos .

Durante tempos não agradeci
a valência de tantos cuidados
No encalce da mocidade perdi
a gênese ilícita dos fatos
E na perdição, ainda cri
na contraversão dos falsos...

Distante dos cuidadores
sempre fico a analisar
a monotonia das cores
existente fora do lar
Longe dele tudo é fosco
Embaciada me encontro
É nesse ambiente morto,
que belos retalhos de sonhos
se desmancham como chuva!
E este semblante risonho
está repleto de angústia...

Como a Lua na madrugada,
eu permaneço em vigília
Aguardando a alvorada
anunciar com voz lírica
meu retorno à casa amada...

Em uma manhã de renovo
desejo seguir a trilha
Conhecedora de todos
que me chamam "filha"
Quero, nesse mundo solto
re-abraçar minha família...


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Derradeiros .


Enquanto o sol desaparece
e o eclipse modela formas
O peso da morte se insere
como Cruz em nossas costas

Enterraríamos indagações
por fluência de medo?
Aceitaríamos os grilhões
do insalubre desprezo
lançado pelo Verme -
Deus da decomposição?

Quando os cremadores
reduzirem-nos à cinzas
Todos os esplendores
de vidas já extintas
disseminarão o perfume
da falência inspiradora
e do exílio eterno...

E após os rituais mortórios
Ante o odor cadavérico
Todos nós - Pó simplório
Adentraremos ao inferno!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Intuitivo .



Necessito da quentura
de teu respirar ofegante
Pois a tua estrutura
é tão estimulante
quanto a cocaína...

domingo, 15 de abril de 2012

Acíclico .


Cada corpo que eu enterrava
era uma chama que apagava
e um trauma irredimível

O carinho que os entusiasmava
A atenção que eu demonstrava
encobriam um segredo terrível

E os dentes que hoje guardo
representam todo o legado
de um ciclo interrompido...

Passado Rubro .


Saboreando o teu sangue
que espumava em minha boca
Experimentei a chance
de provar o quão louca
aprendi desde sempre a ser

Desgracei tua liberdade
Continuo em impunidade
e sobre ti posso escrever

Cada memória é uma faca
destruindo esse Abril
atirando como arma
em meu peito vazio
escondendo toda a calma
que minha'lma jamais viu...

sábado, 14 de abril de 2012

Amor aos males .


Os frígidos ares ecoam
gritos da minha história
Mas minhas mãos não soam
E o meu olhar não chora

Sou vista como babilônica
E tal fama não me devora
Nasci para exalar amônia
e abrir a Caixa de Pandora

Lágrimas não mais derramo
por quem me atira dardos
Nem tampouco mais eu clamo
por absolvição de pecados

Realmente eu estou perdida
(entre páginas de revistas)
E mantendo completo sigilo
Leio os últimos capítulos
sobre rainhas e seus beijos
com criados em calabouços

Vivo como prefiro
pois o homem sem desejos
é um homem morto...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Realidade abrupta .


Enquanto inúmeras crianças
amavam palhaços
Uma, sem esperanças,
desejava matá-los

Não sorria, não chorava
Afeto não demonstrava
Em seu silêncio surgia
fulgor de misantropia

Desfez seus transtornos
ao se "converter"
Mas rejeitou subornos
o seu jeito de ser

Não adianta mais renegar
o sangue das tuas veias
Para quê retirar
as aranhas das teias
Se são elas que dão
morbidez aos telhados?

Não te deixarei poupar
esse lado perverso
Completamente encoberto
por essa torpe mania
de a todos perdoar!
Se de vidro é esse teto
Pedras, irei lançar...

Algeme os meus punhos
que faço questão
de te satisfazer

Cerrando meus olhos
te amando, gemendo,
encontro o prazer

Tu és meu demônio,
meu Senhor Supremo
O pesadelo no sono
e a perda que temo!

Não deixes meu corpo
se resfriar no leito
Que não deixarei
nenhum sufoco
estremecer teu peito!




JE T'AIME...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Escândalo .

Revirei as tumbas
da minha memória
Deifiquei múmias
de ex-histórias

Ouvi vozes estúpidas
Fanatizei meu cérebro
Adorei deusas impuras
nas profundezas do inferno

Empalei os escravos
de desejos proibidos
residentes de minha'lma...
O Consciente despertado
e um tanto ensandecido
obteve incrível calma
ao redefinir minha índole:

- Sou uma sociopata
amante de crimes....




domingo, 18 de março de 2012

Império .

Descontrolada hiperatividade
após levantar d'uma cama vazia
E deselegantes impunidades
levaram um bispo à euforia

Insultos - sua boca proferiu
Blasfêmias lançou - descrente
Rasgou a batina - sorriu.
E seguiu nu, em frente.

Estuprou prostitutas de má sorte
Decretou a igreja aos destroços
Sentenciou gargantas ao corte
E desarticulou vários ossos...

Ataque de fúria em plena manhã
motivado por funções genéticas
Mais um homem entregue ao clã
dos assassinos longe das trevas
que sem mentalidade sã,
reinos e mundos impera!

sábado, 17 de março de 2012

Açougue perfumado .

O olhar frio que engana
aos ingênuos de alma
Se acalenta na derrama
de vinagre nas chagas
que foram iniciadas
por meio do combate
entre a ética e a loucura...

Quem estrangula outro ser
e se compraz nas torturas
perde-se no conviver
com a própria soltura
Vivo, em meio ao mundo
enterrando seus defuntos
em subsolos macios,
ironiza o nascer das flores
que desenvolvem odores
românticos e adoráveis,
sugando os sais execráveis
de mortíferas moléculas...

Obsessivo .


Quando percebi que John não me amava, o chamei para ir em minha residência. Lá, ofereci bolo e café... John aceitou, se satisfez e não notou que havia veneno no que tinha comido. Agonizando, perguntou o que estava acontecendo e respondi:
- Esse é o nosso casamento, amor.
Pus uma aliança em seu dedo anular da mão esquerda e outra idêntico no meu dedo.
Assim tirei a vida de um homem que não me queria tão intensamente como eu o queria, mas com força de vontade consegui tê-lo. Sempre que quero sentir o perfume de meu amado, vou ao jardim e cheiro as flores... Sei que elas usam os nutrientes decompostos dele para que se desenvolvam... Meu querido é tão cheiroso...
A todo momento deito perto das flores e repito, veemente, a frase que nunca me canso de dizer:
- John, você não sabe o quanto me faz feliz. Amo-te!

domingo, 11 de março de 2012

Desastre natural .

Miro no espelho
teus olhos quando me vejo.
Em meus olhos castanhos
enxergo a doçura dos teus...

Na minha brancura
nego teu fenotípico bronze
E em meus lábios rosados,
sinto o gosto salgado
de lágrimas saudosas...

Somente com a distância
pude compreender
a tamanha inconstância
da necessidade de te ver
De olhar teu sorriso
Aprimorar teu sarcasmo
E te observar ao crescer...

Me recordo do teu sono
e de teu corpo sob meu leito
Me recordo das noites
em que encostei no teu peito
e ouvi teu coração bater
enquanto tu dormias...

Se te ensinei a ser quem és
O que farei nesses dias infiéis
sem o teu EU perto de mim?

Ego, perdoe esta minha fraqueza
mas meu irmão, hoje, é a certeza
de que não mais quero ver o fim...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ar .

Em tempos-remorsos
o toque dos corpos -
Corpos celestes em fúria
fazem de suas forças
controles remotos,
amores devotos
que descongestionam
a respiração...

terça-feira, 6 de março de 2012

Luxúria .

Sucumbidos pela carne
seguimos os passos
que levam à morte...
Sem trair a verdade
desenhamos traços
da vida sem sorte
à qual fomos reservados.

A amoralidade humana,
sem noção de pecado
É a porta mais triste
para os confins da vida.

Sorrimos alucinados
mascarando os fardos
de experiências tidas...

Traímos a nossa alma
fazendo-a acreditar
em sorrisos de mentira.