segunda-feira, 22 de julho de 2013

Infinda mágoa .

Uma cadeira de balanço
Em frente ao espelho
Mãos já sem encanto
Penteiam os cabelos

Olhos miúdos apertados
Pele fraca, enrugada
Testamento anunciado
Sentinela marcada

Meninice morta há décadas
(em um caixão enclausurada)
O tempo me fez boneca
Amanhã serei das larvas,
recém-nascidas, na terra,
pequenas e encorpadas


Ontem: uma imagem
idolatrada, venerável
Hoje: mero desgaste
frágil, vulnerável

Estonteada, paralítica
Arrasto as muletas
Tentativa interrompida
Permaneço na cadeira

Bato o pente no espelho
Deixo-o fragmentado
Um dos pedaços aproveito
Rasgo meu peito rasgado

O sangue forma uma poça
Os olhos, outra...

Morta, não sinto meu corpo
Mas a alma pesa mil quilos
Dos ventos não noto o sopro
Não mais falo, não respiro

Fechei as roxas cortinas
Desse terrível espetáculo
Nunca fui uma heroína
ou um ser respeitável

A dor continua ainda,
segue um hino macabro
A vida? um dia finda.
A angústia? Inacabável.