segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Vencedor - Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração — estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Metalinguagem .

O homem disserta a perdição
sendo ele, por si só, já perdido
Pobre, incerto, enlouquecido
Coberto de cinzas, blasfemo
Simples, composto e primitivo
como a atmosfera de Vênus...

Rotina .

Ensandecida pelos ataques
ora mentais, ora epiléticos
Famigerada pela moral
dos cínicos e patéticos
Disfarço pegadas e portanto,
perco os passos dos céus!
Sem ironias, sem enganos
distante dos puros véus...

Já não busco nenhum sentido
para as tantas crises minhas
Apenas atento meus ouvidos
para a música dessas linhas
para o sentimento indefinido
que por aqui se esquadrinha...

Lascívia tentação .

Teus cabelos macios
Ondulados e belos
Teu olhar tão vil
Chama do inferno

Encantas toda a forma
dessa psiqué disforme
Insistes na proposta
do sexo que envolve
a inocência e o pecado
num ritmo desenfreado
que não pára ou dorme

Deusa pagã, tu me amas
ou me serve por ofício?
Com sorrisos a mim engana
ou sou eu também teu vício?

Solitária eu estou; te desejo
mas contra mim tu relutas
Despedaçada, te peço um beijo
minha doce amada, prostituta...